quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O QUE NOS MOTIVA TANTO A "TER" AO INVÉS DE "SER"?

Hodiernamente, durante a sua existência aqui no mundo, o homem tem se preocupado ou lutado insensantemente em "Ter, possuir" durante toda a sua vida, e na falta desse "Ter", ele tenta compensar de alguma forma com situações não bem sucedidas que resultam em frustrações, decepções, depressões, insatisfações e até mesmo em fracasso. O "Ser" pouco é considerado, pois-lhe é dado como consequência do "Ter", uma vez que, em se tendo, tem-se a falsa idéia de que se pode "ser". Realmente, uma falsa e ilusória idéia, pois, o "Ter" é provisório, transitório, passageiro, enquanto o "Ser" é perene, permanente, defenitivo.

Certa feita, Jesus citou uma parábola a respeito da efemeridade do "Ter" de um homem, considerado nécio (louco) que pensava apenas em ter, possuir bens, vejamo-la:

"E propôs-lhe uma parábola, dizendo: A herdade de um homem rico tinha produzido com abundância; E ele arrazoava consigo mesmo, dizendo: Que farei? Não tenho onde recolher os meus frutos. E disse: Farei isto: Derrubarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os meus bens; E direi a minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e folga. Mas Deus lhe disse: Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?" (Lucas 12:16-20)

É mesmo uma loucura agir dessa forma, não é mesmo? Nos dias atuais se poderia pensar ser sensato esse procedimento, pois, a medida de quem tem nunca é demais, e conforme a parábola, a herança, ainda que com "abundância", não foi suficiente para àquele homem, que arrazou consigo mesmo, decidindo em derrubar os celeiros que já tinha para edificar outros maiores, a fim de ter mais e mais bens para saciar sua "Alma", seu "Ego", achando que teria descanso. Esqueceu-se de seu próximo, de sua saúde, de outros afazares tão imporante que poderiam ser realizados com a "herança" que adquiriu.
Saindo do contexto bíblico, outro pensador muito conhecido, Dalai Lama disse certa feita: ""Quando morremos, nada pode ser levado conosco, com a exceção das sementes lançadas por nosso trabalho e do nosso conhecimento." Essas sementes lançadas as quais Dalai Lama se referiu não se trata de herança material, mas de sentimentos, legados afetivos, cognitivos, dentre outros imensuráveis, pois, o material de nada serve, nunca nos acompanha.
Como é triste observar em alguém que, para se auto-afirmar, demonstra ser uma pessoa que tem muitas posses, que tem riquezas, propriedades, achando que com isso, será amado, querido, admirado. Até pode ser momentaneamente, mas quando seus bens se forem, ou quando ele mesmo partir dessa fase vital, seus bens de nada adiantarão para si, ficarão para outros ou até mesmo para administração do próprio Estado, caso não haja herdeiros. Triste fim, sem lembranças afetuosas, sem legados afetivos e cognitivos, sem herança histórica.
Quando nos debruçamos e nos esforçamos em "Ser", mas ser numa verdadeira essência humana, como imagem e semelhança de Deus, a situação é totalmente aversa, isto é, quando nos preocupamos em "Ser" uma pessoa boa, acolhedora, sem preconceitos, sem apego as coisas materiais, desprovidas de algo que lhe prenda a materialidade, de fato somos livres, e conseguimos não só levar esse estado de espirito conosco, como podemos deixar eternamente memorável nas mentes daqueles que nos conheceram. Como é bom ser lembrado pelo que fomos, e não pelo que temos.
Outra parábola bastante interessante na Bíblia é aquela em que um jovem rico pergunta a Jesus o que fazer para ter a vida eterna, vejamos qual foi a resposta de Jesus:
"E eis que, aproximando-se dele um jovem, disse-lhe: Bom Mestre, que bem farei para conseguir a vida eterna? E ele disse-lhe: Por que me chamas bom? Não há bom senão um só, que é Deus. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos. Disse-lhe ele: Quais? E Jesus disse: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho; Honra teu pai e tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo. Disse-lhe o jovem: Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade; que me falta ainda? Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me. E o jovem, ouvindo esta palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades. Disse então Jesus aos seus discípulos: Em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no reino dos céus. E, outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus." (Mateus 19:16-24). Percebamos que Jesus não estava condenando aos ricos de irem ao céu, mas que era difícil, não impossível, entrar no reino dos ceus, haja vista ao "Apego" do homem aos bens materiais, ao querer "Ter", ao invés de "Ser".
Por fim, pensando na efemeridade humana, Salomão, considerado um dos homens mais sábios do mundo, escreveu em um dos seus livros a importância da reflexão sobre o apego as coisas materiais no momento da partida de um ser humano, ao ponto de valorizar a frequência de ir a casa de luto à casa onde há banquete, vejamos:
"Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque naquela está o fim de todos os homens, e os vivos o aplicam ao seu coração...O coração dos sábios está na casa do luto, mas o coração dos tolos na casa da alegria.". (Eclesiastes 7:2,4). Conseguimos imaginar, ao menos que, os vivos considerados sábios, aplicam em seus corações o aprendizado durante aquela triste cerimônia, percebendo que, em estando vivo há tempo para mudar a sua condição em relação ao seu próximo. Obviamente, todos nós precisamos "Ter", mas na medida exata que não nos venha faltar o necessário para nos manter e até para um pouco de conforto, por que não, todavia, em demasiado, a fim apenas de demonstrar ao seu próximo que pode porque "tem", e com isso humilhar ao próximo, se achar mais importante que o outro, imaginar que pode tudo, e isso é uma ilusória percepção.
Que possamos "Ter" sim para, não só nos beneficiarmos, mas para contribuir com o próximo, com ações sociais, em suas comunidades, na construção de um país mais justo e igualitário, não somente pensar que isso seja uma "Utopia", "Um sonho impossível de ser realizado", mas que se fizermos cada um a nossa parte, acolhermos ao nosso próximo com amor, sem apego exacerbado as coisas materiais, com certeza seremos pessoas mais felizes.

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