terça-feira, 3 de janeiro de 2012

A SOLIDÃO E SEUS BENEFÍCIOS

"E disse o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele." (Gênesis 2:18).


"Então chegou Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmani, e disse a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto vou além orar....E, levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se muito... Então lhes disse: A minha alma está cheia de tristeza até a morte; ficai aqui, e velai comigo. E, voltando para os seus discípulos, achou-os adormecidos; e disse a Pedro: Então nem uma hora pudeste velar comigo? " (Mateus 26:36-40)

"É sobretudo na solidão que se sente a vantagem de viver com alguém que saiba pensar." (Jean Jacques Rousseau)

"Há momentos infelizes em que a solidão e o silêncio se tornam meios de liberdade." (Paul Valéry)

 Solidão! Quais os benefícios que se podem alcançar por meio dela?

Bem, Para não pensarem que essa reflexão ficará permeada apenas com argumentos teológicos, colocamos alguns pensamentos seculares  para daí então divagarmos nesse intento.

O primeiro deles é de que a Solidão é necessária para liberdade, isso mesmo, na medida em que estamos à sós, estamos livres. No exemplo bíblico, no início de Gênesis, Adão teve como incumbência dominar todos os seres viventes, cultivar a terra e dar nomes aos animais, tudo isso antes do versículo 18, ele tinha liberdade de ação para fazer tudo o quanto Deus o tinha ordenado, todavia, a tarefa estava um tanto quanto difícil, e então Deus resolveu dar-lhe uma companheira para ser sua "ajudadora". Com isso não queremos dizer que, ter uma companhia de outro venha tirar sua liberdade totalmente, mas de uma certa forma, a responsabilidade pela companhia do seu amado(a) diminui (restringe) essa liberdade. São esses os conselhos ministrados pelos padres, pastores, rabinos e juizes no momento da cerimônia de casamento, em que afirmam eles que o casal deverá cuidar um do outro, e que mesmo sendo uma "só carne", eles não estão mais "sós", "livres", tem que haver a compreensão de que um necessita da atenção e do cuidado um do outro. A liberdade nesse caso passa a ser "limitada" e com responsabilidade.
O segundo pensamento é que a Solidão nos ajuda a refletir melhor nas decisões em que devemos tomar. Jesus, no Novo Testamento, a todo tempo esteve arrodeado de pessoas, quer seja na multiplicação dos pães, no sermão do monte, por onde quer que passava, aglomerava-se multidões para alcançar dele algum tipo de benesse, cura, aconselhamento e ensinamento. Mas em muitas passagens na Bíblia Sagrada demonstram que Jesus procurava se "isolar", "ficar a sós", para poder orar ao Pai (Deus) e assim melhor refletir nas decisões em que deveria tomar. No exemplo acima de Mateus, mesmo levando consigo para getsêmani Pedro e os dois filhos de Zebedeu, foi na solidão do "Jardim" que ele pode compreender a necessidade e o propósito divino de sua missão sacrificial pela humanidade, não desistindo assim de morrer pelos pecadores. Nós seres humanos somos muito "inconstantes", "indecisos", "duvidosos" em nossos sentimenos e no que devemos fazer, e muitas das vezes não fazemos as coisas consideradas "corretas" porque não pensamos o suficiente; esse pensamento só conseguimos quando estamos alheios "as influências externas", quando não há interferência de outro que tente o nosso próprio coração ou a nossa consciência a decidir o que é melhor para nós. Jesus teve esse momento "sublime" e não desistiu do que seria o "marco" para o cristianismo, o verdadeiro amor demonstrado para o ser humano, talvez, se os seus três discipulos ouvisse a sua oração com o Pai (Deus) e tivesse a mínima idéia do que estava prestes a acontecer, Jesus não tivesse tomado essa decisão, mas isso eu falo na condição de pensamento de uma pessoa secularizada, não de uma pessoa militante cristã, pois, como cristão, sabemos que tudo estava já determinado a acontecer desde a "Fundação do mundo", quando a terra era ainda sem forma e vazia...Pois Ele (Jesus) haveria de morrer pela humanidade para proporcionar a Salvação.
Terceiro pensamento sobre a Solidão é que nós descobrimos em nós mesmos que somos seres capazes de pensar. Ora, ninguém que vivencia uma solidão fica inerte em sua mente, ele pensa, ainda que alguns desses pensamentos não sejam os melhores possíveis, ou sejam, mas a todo o momento em que vivencia a solidão, o "Pensamento flui". Rosseau descobriu algo que há muito o ser humano já fazia, pensar! Todavia, nunca talvez tenha se dado conta. A diferença básica dessa reflexão para a anterior é que, na anterior eu me isolo, fico na solidão para buscar forças, tentar achar explicações e os porquês da vida, faço reflexões, enquanto nesse último, eu apenas descubro que sou capaz de pensar tão somente, algo que, de repente, pudesse ou solitasse que alguém pensasse por mim, quando descubro que eu tenho esse "maravilhossíma" capacidade. Na história secular temos diversos exemplos de pessoas ilustres que isoladas, imersas em suas teorias científicas, descobriram fórmulas, conceitos que até aos nossos dias perduram, a exemplo da teoria da evolução, da relatividade, da gravidade, dentre outras tão importantes para a comunidade científica, e que tais conclusões só foram possíveis porque seus idealizadores estão em "solidão", mas pensantes.


Por último, não menos importante, descobrimos que a Solidão nos preserva, nos mantém intactos de processos auto-destrutivos. O homem por si só, é uma cabeça pensante, como vimos na reflexão anterior, mas de certa forma, não convive sozinho o tempo todo, por ser "um ser social", por "viver em grupos" e isso também traz alguns problemas. Por conviver em sociedade, esta impõe determinadas regras coletivas a qual o sujeito não quer ou não concorda a se submetê-las, logo, a "infelicidade" bate as portas, trazendo-lhe descontentamentos, frustrações, dor, sufocamento, dentre outros sentimentos destrutivos. Valéry consegui vislumbrar na Solidão e nos momentos de silêncio uma válvula de escape para se preservar essa integridade. Obviamente que o ser humano não vá se torna um "ermitão" ou "eremita", apesar de existir pessoas que tomam essa decisão, mas isso é uma situação rara e extrema, e porque não dizer atípica do comportamento humano, todavia, quem de nós nunca encontrou um pouco de "paz", "tranquilidade", "sossego" e "proteção" na solidão e nos momentos de silêncio?
Por que será que muitas pessoas fazem excursões a hotéis fazenda, a lugares exóticos, arquipélagos (ilhas) dentre outros lugares isolados na terra, para se sentir felizes, recarregar a bateria humana de sentimentos, e se tornarem mais capazes de tocar a vida com mais alegria? A busca por esses lugares não é de forma consciente, ainda que pensamos ser, mas a nossa própria estrutura psiquica assim anseia que nos isolemos de uma forma ou de outra para nos restabelecermos mentalmente e então possámos nos tornarmos pessoas melhores.

Percebemos então que a "Solidão" tem sim seus benefícios, mas que desde na medida certa, num tempo necessário para alcançarmos a serenidade, a sobriedade, a conclusão de um pensamento, o fortalecimento espiritual, o descanso merecido. Permanecer na solidão é por demais prejudical a qualquer ser humano, até para àqueles que decidem ser ermitão, pois, passa a ser um ser humano limitado, incapaz e alheio ao que existe de melhor na vida, o compartilhamento de emoções, de idéias, de aprendizado.


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