sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Por que não me entendo com o meu cônjuge?

"Você promete, diante da Igreja (ou deste magistrado - quando casado em fórum ou comarca) e do público presente, amá-lo(a), honrá-lo(a), ser fiel e cuidá-lo (a) na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na fartura e na escassez, até que a morte os separem?..." Quem nunca ouviu esses juramentos ao vivo ou ao menos pela televisão, cinema, etc., sobre as "juras" que os cônjuges (cada um dos esposos em relação ao outro) fez na cerimônia de casamento? Será que tais juramentos estão sendo ou foram ditos "conscientementes", ou apenas para cumprir uma mera formalidade da Igreja ou do próprio juíz que celebra esse ato? Por que falar de "juras conscientes"? Mas afinal, que diferença faz jurar ou não conscientemente? Bem, esse assunto é muito complexo, e exige de cada um de nós uma reflexão muito, mas, muito profunda daquilo que abordaremos agora. Isso não quer dizer que serei prolixo (demorado) nas reflexões, todavia, assertivo (direto na expressão, naquilo que quero dizer) sobre o assunto. Então, vamos lá!

A proposta desse texto é tentar refletir sobre a pergunta do título "Por que não me entendo com o meu cônjuge?", e não: "Por que meu cônjuge não me entende?". A partir dessa pergunta, o foco de entendimento sai do polo passivo e passa para o polo ativo para aquele que quer compreender os seus sentimentos, situação ou um momento não muito bom, o qual está passando naquele momento, para tanto, objetivando entender esse auto-questionamento, precisaremos fazer algumas reflexões pertinentes sobre o assunto, que vai além de uma simples explicação psicológica ou mesmo, como muitos dizem: "uma explicação de incompatibilidade de personalidade".

 A primeira reflexão que gostaria de fazer aqui é a existência da "diferença de gênero",  o que não se restringe tão somente na existência de um "órgão genital" diferente entre os cônjuges, vai além disso, até porque com a evolução do entendimento jurisprudencial brasileiro, "cônjuge" hodiernamente é tratado nos tribunais como uma união entre "homem e mulher", "homem e homem" e "mulher e mulher", principalmente no que tange aos direitos patrimoniais e de sucessão. Quando nos debruçamos para questão de diferença de gênero, nós devemos ter em mente algo mais peculiar, do tipo "relação de poder" ou "busca por reconhecimento de seus direitos", ou seja, em se tratando das mulheres, essa busca pelo reconhecimento de seus direitos e a relação de poder frente ao homem tem sido uma constante histórica. Para melhor compreensão dessa assertiva, seria muito interessante acessar o link a seguir que trata pormenorizadamente tal assertiva: http://www.uepg.br/nupes/genero.htm  . Então, a primeira reflexão que devemos ter seria: "Que o nosso parceiro, apesar das juras de amor e da possível compreensão conjugal, não pode se esquecer que eu (homem ou mulher) estou em constante busca de reconhecimento dos meus direitos, da minha relação de poder (intra e inter lar), e que querendo ou não, haverá sempre um "conflito" por essa inevitável existência. Tá complicado? Vamos tentar esclarecer mais um pouquinho: Eu, homem, casado com uma linda e belíssima mulher, prometi amá-la e ser fiel até que a morte nos separássemos, todavia, inevitavelmente há uma "relação de poder" e "busca pelo reconhecimento dos meus direitos", quer seja em meu próprio lar ou externo, e que pode trazer um "certo desconforto" essa situação. Isso é gênero. Mudando o sexo: Eu, mulher, casada com um homem bonito, compreensivo, atencioso, que me assiste em tudo, todavia, não posso parar no tempo em virtude desse comportamento dele comigo, porque "inevitavelmente" existe uma relação de poder e uma busca de reconhecimento dos meus direitos, quer seja em meu lar ou fora dele. Temos quer ter essa consciência, e aprender a lidar com isso sem "sufocar" o nosso amado(a).

A segunda reflexão aqui abordada, e tão importante quanto a questão da "diferença de gênero", creio que intimamente ligada a ela, está a questão da "ambição pessoal". Mas afinal, a ambição não seria algo danoso para qualquer pessoa? Por que então deveria existir num casal? Bem, muito superficialmente, eu poderia começar a dizer que a ambição se dá no momento da nossa fecundação, em que no meio de 350 milhões de espermatozóides, apenas um (ambicioso) consegue romper a estrutura glicoproteica do óvulo, formando assim o "zigoto". Quer entender melhor esse processo, acessem http://www.brasilescola.com/biologia/fecudacao.htm, é superinteressante. Mas, psicanalitacamente falando, a ambição estaria no campo do desejo (libido) de um ser (indivíduo) em querer evoluir, crescer pessoal e profissionalmente, ser independente por seus próprios esforços, buscar o seu bem estar biopsicossocial, desejo esse salutar, saudável para a auto estima e para saúde mental. O que talvez possa ser compreendido como maléfico ou de forma perjorativa a "ambição", seria aquela entendida como uma investida para se alcançar algum benefício, necessitando prejudicar o seu próximo. Mas, não é dessa que eu estou falando! Numa união entre dois seres, haverá sempre a "ambição pessoal", ainda que de maneira comedida para uns, ou de maneira mais intensa para outros, sempre haverá esse desejo, pois é inato. Quando é tolhido ou castrado de certa forma, pode haver um desencadeamento de algum disturbio ou transtorno mental, e isso não é bom para ambos os cônjuges.

Terceira reflexão também muito importante a ser considerada entre os cônjuges na busca do entendimento: "A diferença de crenças, princípios e valores de cada um". Não entendeu? Não estou falando de religião somente, mas da maneira como seu cônjuge fora educado, em que contexto ele(a) adquiriu seus princípios e valores, ambos no campo da moral e da ética, e isso se for aprofundado, inevitavelmente iremos nos debruçar na filosofia, mas não é esse o nosso intuíto, mas sim alertar para essa existência. É interessante obsevar que, algo que pode ser normal para mim, pode não ser no entendimento do meu cônjuge, para ele(a) o que é natural, pode ser uma "aberração", "uma afronta" ou mesmo "uma loucura". Bem! Não podemos fazer uma tempestade num copo d'agua por isso, mas também não podemos "tapar o sol com uma peneira" ou "enxugar gelo", pois de nada adiantaria. É muito importante, mas, importante mesmo eu saber um pouco ou muito sobre a crença, princípios e valores do meu cônjuge, pois, por mais amor que eu declare a ele(a) e não compreenda essa "diferença mental", isto é, "diferença conceitual das coisas", provavelmente o relacionamento não durará por muito tempo.

Concluindo, eu não disse que não seria prolixo? Quando algo de errado acontece num relacionamento, duas posições deverão ser evitadas: a) O Fatalista e b) O Messiânico. Quando me posiciono como fatalista, coloco logo a culpa de qualquer problema no meu cônjuge, digo que ele(a) é o responsável por não me compreender, ou que ele(a) não está aberto(a) ao diálogo, e "catastrofizo" toda a situação, situando-me num polo passivo. Quando me posiciono como messiânico, passo ao lado extremo da situação, retirando a responsabilidade do meu cônjuge, assumo toda a culpa dos erros e incompreensões que existirem no relacionamento, e busco inutilmente resolver toda a situação "sozinho(a)", sou a salvação pelo relacionamento, tudo recai sobre mim. Isso também não vai dar certo! Mas qual seria então a minha posição? Hum!..., chegamos num ponto arquemédico das coisas, ou seja, nem tanto e nem tão pouco! Preciso tomar uma posição de "Realista" diante dos fatos, ou seja, que tanto eu quanto ele(a) temos a responsabilidade de manter saudável o nosso relacionamento, e se, após sentarmos, discutirmos, colocarmos os nossos pontos de vistas que são divergentes, mesmo assim não conseguir achar esse "ponto arquemédico", devemos ainda tentar como em última análise (chance), à procura de um especialista ou de alguém que seja capaz de compreender essas diferenças e demonstrar algumas alternativas que devem ser tomadas por ambos cônjuges.



Desistir de um relacionamento, na verdade, nem deveria ser pensado, pois, lembremos as juras no início desse texto, o qual foi abordado sobre "juras conscientes", consegue agora entender o que nós acabamos de refletir? A separação de um casal só é inevitável quando, de fato, não existir mais o diálogo, o afeto e a compreensão das reflexões supramencionadas. Pois, se existir ao menos um desses três, há esperança de dar certo, e assim eu então entenderei o meu cônjuge.

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