quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

“PAIXÃO E POSSESSÃO: UMA LINHA TÊNUE NO RELACIONAMENTO A DOIS”



"Eu sou louco por ti".."Eu te adoro, não sei viver sem você"..."Você me completa, tu és tudo que eu preciso"..."Te adoro, você é o amor da minha vida"...Quem nunca disse tais expressões ou mesmo gostaria de ouvi-las? Como isso soa bem aos nossos ouvidos e infla ao nosso "Ego", dando-nos uma impressão de importância extrema dispensada pelo nosso parceiro(a). É muito bom, não é? Pois bem, enquanto estiver nesse nível, está tudo ótimo, todavia, quando essas frases tomam dimensões além da verbalização, onde o parceiro(o) sufoca o outro, exigindo a mesma reciprocidade, independente das condições fisiopsicológicas do outro (cansaço físico por conta do trabalho, preocupações familiares e sociais, etc.), não compreendendo o momento ideal para conversar com seu amado(a) e assim usufruir juntos de um relacionamento saudável, muda-se o quadro de uma "ardente e intensa paixão" para "Possessão".
A palavra paixão, como já explicamos em outras postagens, vem do verbo latino "PATIOR", que significa sofrer ou suportar uma situação difícil, e que muita das vezes se traduz numa emoção de ampliação quase patológica. A pessoa "apaixonada" de certa forma perde parcialmente a sua individualidade, a sua identidade e o seu poder de raciocínio, entregando-se "quase que totalmente" ao outro(o), sem perceber se está sendo correspondida ou não aquele tipo de comportamento.
A Possessão tem diversos significado em nosso idioma, dentre eles religioso, jurídico e no nosso caso, psicológico

Quanto ao significado na perspectiva religiosa, a possessão que é uma palavra de origem do latim “POSSESSIONE” é aquela que ocorre quando um indivíduo está sob o controle de um ser maligno sobrenatural, ou na visão espírita, a atuação de um Espírito desencarnado sobre o encarnado, com domínio completo.





 

Na perspectiva jurídica, entende-se por possessão quando alguém mantem atualmente algo disponível, e esta pessoa pode ser o guardador "keeper" provisório ou o proprietário a longo prazo de um objeto. Em todos os casos, juridicamente falando, para possuir algo, uma pessoa deve ter uma intenção possuí-la. Uma pessoa pode estar na possessão de alguma propriedade (embora a possessão não implica sempre posse). Como a posse, a possessão das coisas é regulada geralmente por estados abaixo lei da propriedade.

Na perspectiva psicológica, especificamente pelo viés da psicanálise, a possessão tem haver com o narcisismo, o qual tem como característica de personalidade a paixão por si mesmo.
Para compreendermos um pouco sobre o narcisismo do ponto de vista psicanalítico, faz-se necessário saber da obra de Freud escrita em 1914, quando lançou o livro Sobre a Introdução do Conceito de Narcisismo, neste livro Freud subdivide o narcisismo em duas fases:
  • Narcisismo primário- é a fase auto-erótica, o primeiro modo de satisfação da libido, onde as pulsões buscam satisfação no próprio corpo. Nesse período ainda não existe uma unidade do ego, nem uma diferenciação real do mundo.
  • Narcisismo secundário - ocorre em dois momentos: o investimento objetal e o retorno desse investimento para o ego. Quando o bebê já consegue diferenciar seu próprio corpo do mundo externo ele identifica quais as suas necessidades e quem pode satisfazê-las, então concentra em um objeto suas pulsões parciais, geralmente na mãe.
O narcisismo não é apenas uma condição patológica, mas também um protetor do psiquismo. Um narcisismo “que promove a constituição de uma imagem de si unificada, perfeita, cumprida e inteira”. (Houser, 2006, pág. 33). Ultrapassa o auto-erotismo para fornecer a integração de uma figura positiva e diferenciada do outro.
Exprimir uma certa forma de narcisismo não tem nada de grave num adolescente. Trata-se na maior parte das vezes de uma etapa no desenvolvimento da personalidade antes de enfrentar as responsabilidades da vida adulta. No entanto, se o comportamento narcisístico não desaparece, e pelo contrário se exaspera, é melhor recorrer a um psicólogo. É ai que entra a questão da “Possessão” como narcisismo secundário. Como assim? Vamos lá! 
Quando uma pessoa tem paixão pela outra de forma a controlar-se e conseguir manter, de certa forma, a sua individualidade, identidade e poder de raciocínio durante o relacionamento, até ai está tudo bem, agora, quando essa pessoa investe no seu parceiro (investimento objetal) ao ponto de somente satisfazer suas necessidades afetivas, sexuais, pessoais, etc., de forma a sufocar o seu parceiro, esse narcisismo secundário transforma-se numa “Possessão”, e isso fatalmente trará sérias consequências para o casal.
Não é ruim de certa forma “estar apaixonado(a)”, isso faz bem a pessoa, faz bem a saúde física e psíquica, pois traz uma alta estima, faz a pessoa se sentir viva, capaz de amar e ser amada, enfim, a paixão tem o poder de transformar as pessoas antes apáticas, sem vida, e entediadas em pessoas melhores e atuantes, todavia, quando essa paixão se torna patológica, ou seja, quando a pessoa perde o controle e não mantem as 03 (três) premissas fundamentais já mencionadas, a linha tênue que separa paixão e possessão é rompida, e tudo pode ir “por água abaixo”, fazendo aquilo que antes era belo, intenso, torna-se amargo, doloroso, raivoso.



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